Ele desceu a rua, sem saber oque pensar, simplesmente desceu porque andar para ele fazia mais sentido do que ficar parado. Eram movimentos, mas movimentos sem intuito, sem destino, sem razão e quase sem pensamento voluntário.
Desceu, sem saber se os erros eram ou não culpa sua, se tentar demais era ou não um defeito.
Parecia para ele que todas as vidas e estórias que, assim como ele, andavam de um lado ao outro da rua faziam mais sentido que a sua própria.
Normalmente, quando não pensava em nada, tendia a passar e repassar, quase que involuntariamente, palavras, atos e momentos em sua cabeça que, para ele próprio, não tinham a menor razão para existirem neste momento em especial, era simplesmente algo inevitável. Tendia a olhar as pessoas a seu redor até que estas retribuíssem o olhar, então desviava com vergonha e perguntava-se porque o estava encarando. Simples, porque parecia fazer mais sentido encarar o desconhecido e não se atrever a conhecê-lo do que olhar para si próprio.
Não se concentrava em fazer a coisa certa, mas simplesmente em não fazer nenhuma besteira.
Sabia que poderia estar fazendo algo de útil, lembrava-se do prazer que tinha quando fazia algo de útil para si ou para os outros. Sabia que tinha todas as condições para fazê-lo, tinha a vontade e sentia-se na obrigação de fazê-lo, mas quando parava para pensar no que considerava útil tudo ganhava uma estranha inutilidade, uma estranha falta de valor, então tudo oque sentia e via era envolto neste sentimento, tudo absolutamente tudo, sem exceção de nada, absolutamente nada.
Sentia-se pesado, mas não sabia se oque pesava mais era seu corpo ou sua mente. Sentia-se cansado, mas não sabia do que, não sabia se estava cansado de tudo ou do nada a sua volta, o fato era que, em momentos como este, esses dois opostos começavam a se mesclar quase a ponto de se fundirem.
